quarta-feira, 2 de novembro de 2011

a minha lei da relatividade

Nada mais elucidativo para compreender a relatividade do que a magia contida em uma chamada telefônica: um fio condutor mágico que atravessa os sete mares ligando o oriente ao ocidente, conectando a tarde seca e quente de Tel Aviv à uma chuvosa e cinzenta manhã de São Paulo.E cá estou, da metade do outro lado do mundo, há seis horas de distância, minha voz já rouca de tanta tagarelice emite mais um alô, talvez o centésimo do dia, que em incrível e quase inexplicável velocidade, atravessa os oceanos e toca teus ouvidos em milésimos de segundos. A resposta chega imediata e seca como esses dias que já vinha vivendo há alguns meses.
Um nome que não é o meu se materializa nos meus lábios, apresentando-me; um texto que deveria estar decorado, toca minhas cordas vocais de maneira improvisada e distorcida, como sempre, levando a conversa não para onde me mandam levar, mas para os pontos que de fato me interessam.
Sinto a alteração na voz ao outro lado: aproximação de ideias. Minha sensibilidade me avisa qual é o próximo passo a avançar, me indica a velocidade e o momento. Aprendo mais de mim, projeto e reintrojeto sonhos, desejos e conhecimento. Pouco sei de ti, mas vejo uma bela amizade que brota através da imaterialidade de um fio inexistente. Repercussão sonora, energética transformação de dados.
Daqui, a linha falha, cansada, me retiro, vou dormir. Amanhã, acordo cedo para meditar.
Daí tu despertas. E enquanto acordo, vais dormir.
E mais tarde te chamo, te desperto de um sonho, sem querer, é claro.
Sigo chamando a mais um, onze, trezentos... vozes duras, doces, apaixonantes, cansadas ou sem importância. De novo, entre eles, te chamo. Conversa boa.
E foi uma infindável distância métrica que proporcionou o encontro imaterial com alguém que sempre antes estivera fisicamente próximo, entretanto infinitamente distante na incomunicabilidade da escorregadia vida paulistana. Como um respiro no tempo e no espaço, buraco negro aberto no centro da terra, a linha de um telefone nos conecta.
Isso é relatividade.
Relativa e perturbadora amizade.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

do inevitável

As coisas são como são.
Como eram para ser, ou do avesso?;
que importa?
são como são.
por escolha consciente?
desejos invisíveis?
casualidade?
não sei.

O que é claro é que uma coisa leva à outra em ação-e-reação, em eterna repercussão de ondas, redes e desdobramentos que de repente culminam inevitavelmente no fato de cá estarmos, perdidos no deserto, nos amando nos espinhos dos cactus.
Seguindo cegamente num misto de prazer e dor que se confundem, regozijando-nos pela dor dos espinhos que atravessam a carne, arranham a pele, rasgam os tecidos e arrancam nossas roupas, dilatando nosso gozo inconsequente.
E é imaginando a doçura inebriante da voluptuosa imagem de nossos corpos entrelaçados que esquecemos que sobre eles residem cabeças embaraçadas. E sem pudores, fazemos amor com as pontas dos dedos...

domingo, 16 de outubro de 2011

XI-

em álulas crescentes,
eminente alada sou.
e entreluzir;
borboletinha.

infindável aprendiz
da luminescência de si.
contínuas-asas a brotar,
dolorosamente belas.
 
percebeis a fluência divina?,
rotação harmônica,
o mandalar do corpo
em sopro profundo.
 
da paz que se rompe
em salgadas águas
respingantes em doce lagoa.

em vôo - e passos constantes,
um eu que caminha,
pés firmes na terra;
outro, desliza no céu;
e assim compreender-me: mulher.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

a história da beleza do ser

Era possível, se examinássemos bem, enxergar os espinhos encravados nas entranhas mais sombrias daquele ser, que nem ao menos sabia o que era e o que significava existir.

Para ele as palavras eram apenas palavras e se tornavam vazias quando explodiam e saíam rasgadas sufocadas ditas pelo não dito de um sentimento mal sentido e de erros mal cometidos.
os dias tornavam-se noites lá dentro e as noites eram chuvosas, raivosas, de relâmpagos e trovões.
aquilo que um dia tinha sido amor tornara-se um sentimento rachado pela secura dos dias, mofado pelas chuvas consecutivas,
e o que era alegria se transformava-se em medo. O medo consumia os dias, e as noite, e as tempestades. Nada valia.

De repente o espelho enfrentou o ser ele viu pés de galinha no canto dos olhos, um fio branco no cabelo, o tempo havia passado por ele, sem que pudesse notar, com os olhos fixos num botão nem reparou que o corpo havia mudado, as transformações vieram e nem ele, nem ninguém pôde enxergar.

A beleza chegou, e já havia chegado a há tempos, se pois à disposição, se mostrou viva, mas logo empoeirou-se, consumindo-se numa infinidade de fungos e insetos, por ninguém ver que ela estava ali.
Ninguém aproveitou, ninguém desfrutou da beleza que desabrochava naquele ser. Ninguém a quis!
[...minto! alguém a quis, sim. Mas somente aqueles que não a tiveram ao alcance e a quiseram calados, observando passivos aquela beleza tentando se mostrar. E observaram passivos, quase se divertindo, àquela beleza se desmanchar no ar. Observaram e a quiseram somente quando ou enquanto era distante e bela suficiente para que não a tocassem.
O toque a tornava real e a beleza jamais pode ser real. ]

Os que estavam próximos e podiam tocá-la a tinham como real demais, e por isso tanto fazia se havia beleza ou não havia
A rotina era longa e importante demais para que se pensasse em beleza.
Os dias eram muito cheios, as atividades consumiam o tempo e a disposição.

E a beleza foi aos poucos se desmanchando por ser tão real, se tornou invisível aos olhos daqueles que a tinham por perto e então ela deixou o ser, foi procurar lugar melhor para morar. Mas estava fraca e morreu apodrecida no meio do caminho.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

nada II

Algo de triste cansa e desanima, desmotiva o viver, se põe tão baixo que passa do chão, faz não estar em si e não encontrar a nenhum lugar como seu, algo que ri de piadas prontas e vive o vazio dos dias como se o corpo fosse apenas corpo, sem alma, sem sangue, sem coração. Um corpo que vaga liso, interrompido, escorrido pelo corredores da existência fria e desnivelada.
Palavras jogadas sem emoção, emoções jogadas sem palavras. Nada que seja possível se descrever, nada que as palavras consigam em sua mais profunda emoção demonstrar.
nada de nada
e nada

num imenso e infinito mar de não presença, de apatia, e de doces canções que chegam aos ouvidos sem significar, passam pelo ouvido e pelo corpo frio, sem relar o coração.
Canções de ninar, que ninam, pois foi ao que vieram, e fazem dormir os olhos cansados e azuis de tanto chorar lágrimas e mucos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

nada

e há ainda aqueles dias em que se sente um grande nada.
um enorme e desimportante nada.

domingo, 8 de novembro de 2009

à vida, ao amor

há tempos venho tendo tentativas malsucedidas de colocar nesse blog algumas palavras sobre o amor, mas as sutilezas e as nuances do dia-a-dia tornam o amor confuso, misturado a todos os outros sentimentos da vida.
meu desejo é escrever sobre o amor mais puro, aquele que passa pelos poros, que acalma o coração, que eleva a alma.
é desse amor que venho tentando falar, esse amor que venho tentando viver em sua totalidade, aproveitando cada sutil variação de suas formas.

o amor que perdoa, que aceita, que procura transformação.
o amor imperfeito, que nunca se cansa de buscar perfeição.

a beleza de aprender a cada dia com a pessoa amada, de compreender o tempo e o espaço do outro, os medos e as virtudes.

inevitavelmente sinto-me agora piégas, mas como já diria o poeta, todas as cartas de amor são ridículas.
isso não é uma carta de amor, mas é.
uma carta de amor, ridícula com toda carta de amor deve ser.
uma carta ao amor, ao meu amor.
escrita àquele que me ensina como viver cada dia com amor, que me ensina tanto sobre a convivência, sobre o pensar e sobre o sentir.
àquele que me completa e me fez descobrir e entender o que é o verdadeiro amor.

um amor
pra vida
para o infinito.