segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

a história da beleza do ser

Era possível, se examinássemos bem, enxergar os espinhos encravados nas entranhas mais sombrias daquele ser, que nem ao menos sabia o que era e o que significava existir.

Para ele as palavras eram apenas palavras e se tornavam vazias quando explodiam e saíam rasgadas sufocadas ditas pelo não dito de um sentimento mal sentido e de erros mal cometidos.
os dias tornavam-se noites lá dentro e as noites eram chuvosas, raivosas, de relâmpagos e trovões.
aquilo que um dia tinha sido amor tornara-se um sentimento rachado pela secura dos dias, mofado pelas chuvas consecutivas,
e o que era alegria se transformava-se em medo. O medo consumia os dias, e as noite, e as tempestades. Nada valia.

De repente o espelho enfrentou o ser ele viu pés de galinha no canto dos olhos, um fio branco no cabelo, o tempo havia passado por ele, sem que pudesse notar, com os olhos fixos num botão nem reparou que o corpo havia mudado, as transformações vieram e nem ele, nem ninguém pôde enxergar.

A beleza chegou, e já havia chegado a há tempos, se pois à disposição, se mostrou viva, mas logo empoeirou-se, consumindo-se numa infinidade de fungos e insetos, por ninguém ver que ela estava ali.
Ninguém aproveitou, ninguém desfrutou da beleza que desabrochava naquele ser. Ninguém a quis!
[...minto! alguém a quis, sim. Mas somente aqueles que não a tiveram ao alcance e a quiseram calados, observando passivos aquela beleza tentando se mostrar. E observaram passivos, quase se divertindo, àquela beleza se desmanchar no ar. Observaram e a quiseram somente quando ou enquanto era distante e bela suficiente para que não a tocassem.
O toque a tornava real e a beleza jamais pode ser real. ]

Os que estavam próximos e podiam tocá-la a tinham como real demais, e por isso tanto fazia se havia beleza ou não havia
A rotina era longa e importante demais para que se pensasse em beleza.
Os dias eram muito cheios, as atividades consumiam o tempo e a disposição.

E a beleza foi aos poucos se desmanchando por ser tão real, se tornou invisível aos olhos daqueles que a tinham por perto e então ela deixou o ser, foi procurar lugar melhor para morar. Mas estava fraca e morreu apodrecida no meio do caminho.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

nada II

Algo de triste cansa e desanima, desmotiva o viver, se põe tão baixo que passa do chão, faz não estar em si e não encontrar a nenhum lugar como seu, algo que ri de piadas prontas e vive o vazio dos dias como se o corpo fosse apenas corpo, sem alma, sem sangue, sem coração. Um corpo que vaga liso, interrompido, escorrido pelo corredores da existência fria e desnivelada.
Palavras jogadas sem emoção, emoções jogadas sem palavras. Nada que seja possível se descrever, nada que as palavras consigam em sua mais profunda emoção demonstrar.
nada de nada
e nada

num imenso e infinito mar de não presença, de apatia, e de doces canções que chegam aos ouvidos sem significar, passam pelo ouvido e pelo corpo frio, sem relar o coração.
Canções de ninar, que ninam, pois foi ao que vieram, e fazem dormir os olhos cansados e azuis de tanto chorar lágrimas e mucos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

nada

e há ainda aqueles dias em que se sente um grande nada.
um enorme e desimportante nada.